segunda-feira, 9 de julho de 2012

Gerrit Komrij [30-III-1944 / 5-VII-2012]


ANTÍPODA

Poupem-me a transparência das coisas,
Roupa lavada, sol, danças de roda.
Prefiro reflexos, recordações,
Disfarces mortiços de camaleão.

Não estou. Nenhuma veia em mim murmura.
Vivo nas sombras, nome não conheço.
Deixem-me ressequir na invernia,
Longe das fortes bátegas do verão.

Os temporais de luz, não os suporto.
Não me olhem. Evitem-me essa dor.
Ó câmara. Imagem do bem-estar.
Quero-me antípoda desta exposição.

Gerrit Komrij, Contrabando - Uma antologia poética, Tradução do neerlandês de Fernando Venâncio, Posfácio de Arie Pos, Assírio & Alvim, 2005.


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